Sabe aquele tipo de filme que te traz de volta ao passado, quando você ia numa locadora de vídeo e alugava aqueles filmes da América Vídeo, com aquela abertura aonde se via o Braddock (Chuck Norris) emergindo das águas com uma metralhadora, enquanto o narrador dizia "nós somos a América Vídeo e nossos filmes explodem como dinamite!". Ou ainda quando você podia ligar a televisão a noite e curtir a "sessão kickboxer" ou o "Força Total"? The Mercenary é um filme que quando você assiste, te passa toda essas emoções de uma época que não volta mais.
Você já viu a trama de The Mercenary mais de uma vez: O protagonista de nossa história é traído por um de seus colegas de sua companhia de mercenários e é deixado para morrer nas selvas da Colômbia. É salvo das portas da morte por um padre de uma missão local, e passa a reavaliar seu passado de matança. Quando seus ex-colegas, agora aliados a um cartel de drogas, voltam para sequestrar os nativos para trabalhar nos seus laboratórios de coca, nosso herói fica a favor dos nativos, ensinando-lhes caratê e tentando não matar de novo. Mas quando seus ex-colegas chacinam a vila e o deixam Crucificado numa igreja (!) para morrer, nosso herói, agora de batina e rifle em punho, irá em busca de vingança.
E que vingança. Duas coisas diferenciam The Mercenary de outros produtos do cinema de baixo orçamento, e também de filmes de grandes estúdios que parecem grande coisa, mas também tem o mesmo fiapo de argumento, como O Ultimo Samurai e Avatar. A primeira é seu diretor, Jesse V. Johnson. Conhecido pelos fãs de cinema de baixo orçamento, Johnson já trabalhou com Mark Dacascos e Dolph Lundgren e dirigiu diversos filmes do Scott Adkins (incluindo uma divertidíssima adaptação de HQ, Accident Man), e o recente Triple Threat, que além do Adkins, reuniu a nata do cinema casca grosa: Tony Jaa (de Ong Bak), Iko Uwais (Operação Invasão 1 e 2) e Michael Jay White (O imbatível).
Jesse V. Johnson já cometeu tanto erros como acertos em sua carreira, e considero The Mercenary um de seus acertos. A segunda sequencia de ação no Iraque, logo no começo do filme, é um primor, bem filmada e executada: Max (interpretado por Dominique Vandenberg) o protagonista do filme, entra sozinho dentro de uma mesquita e a tiros de escopeta e rifle, facadas, coronhadas e golpes de caratê vence treze homens sozinho. Brutal, violenta e bem coreografada e editada. O filme em si é bastante violento, como eram os filmes de guerra italianos e os da Cannon Films. Além da já citada crucificação, tem facadas em close no pescoço; disparos de fuzis cujo sangue espirra e a batalha final entra fácil como uma das mais violentas que assisti, com direito a cabeça esmagada a coronhada e tripas caindo para fora da barriga. Gore acima de muitos filmes de terror slashers modernos.
Como diz o vilão do filme, Max não era mercenário por dinheiro, mas porque gostava de matar. E como gostava: Não dá um sorriso praticamente o filme todo, sem piadinhas como a maioria dos protagonistas imaturos atuais. Não é muito popular entre seus colegas, talvez por sua eficiência. E apesar de ser uma máquina de matar, não é sádico, é deixado a beira da morte por tentar impedir um estupro de uma jovem colombiana por um de de seus colegas. Numa das cenas do filme, o personagem cantarola uma canção da Legião Estrangeira para atrair seus inimigos. Minha curiosidade de saber de onde veio esse cena, se tava no roteiro ou foi improvisada, me levou a pesquisar sobre o ator, que é o segundo diferencial desse filme.
O personagem Max foi criado pelo ator principal: Dominiquie Vandenberg (a cara do General Zod do Terence Stamp), que como Van Damme nasceu na bélgica. Vandenberg aos 16 anos foi para Okinawa aprender Kunto. Quando terminou seu treinamento, serviu ao exercito e após isso ingressou em um torneio de artes marciais, sagrando-se campeão. Essa carreira teve que ser abortada quando ele foi atropelado e quebrou a perna. Não podendo mais lutar, alistou-se na Legião Estrangeira (!), formando-se como paraquedista e servindo nos próximos 5 anos em Chade, Nigéria e República Centro-Africana. Após o fim de seu serviço, passou um tempo na Tailândia lutando em ringues de estilo livre, para enfim retornar a Europa e começar uma carreira no cinema. Foi dublê em diversos filmes, e depois fez papéis pequenos em filmes como Mortal Kombat e Gangues de Nova York. Uma carreira digna do Steven Seagal!
Seu caminho se cruzou com o do diretor Jesse V. Johnson nas filmagens de Mortal Kombat, aonde Jesse era diretor de segunda unidade do filme. Quando Jesse V. Johnson se tornou então diretor, colocou Vandenberg em seu primeiro filme, The honorable, e trabalhou com ele em diversos filmes. A ideia original de The Mercenary me pareceu um projeto que Vandenberg agarrou com unhas e dentes. Numa entrevista Vandenberg contou que criou o personagem Max na década passada, para uma HQ que acabou não sendo publicada. Ele e Johnson criaram a história do filme juntos, e aí contrataram David Filmore para escrever o roteiro. Vandenberg ainda foi creditado como um dos produtores executivos, e no fim do filme colocou um agradecimento a seus colegas da Legião Estrangeira.
Apesar de ter gostado do filme, sei que ele é para públicos bem específicos. E quem fechar o olho para o roteiro esquemático, repleto de soluções fáceis (como todo mundo na Colômbia falar inglês) vai se divertir bastante caso seja um apreciador de filmes de ação de baixo orçamento. Até porque como disse, blockbusters usam das mesmas soluções. Vandenberg já disse que pensa numa continuação para The Mercenary.
The Mercenary. 2019. EUA.
Dirigido por: Jesse V. Johnson
Cinematografia: Casey Mcbeath
Edição: Mathew Lorentz
Música: Sean Murray
Elenco: Dominiquie Vandenberg, Louis Mandylor, Carmen Argenziano, Manny Alva, Brad Ashten, Alina Andrei, Nihan Gur, Gene Freeman.
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